uma coisa inadequada na vida de muitos é que seu desejo, ao invés de orientar o comportamento e levar à realização de algo, serve como fonte de angústia e lamentação. essas pessoas jogam contra o desejo — se namoram, sentem-se sufocadas; sozinhas, só pensam em arranjar alguém — no inverno, pedem com nostalgia pelo verão, e, quando este chega, não fazem nada senão maldizer o calor — etc. mas é crucial jogar com o desejo, e vale a pena convencer-se disto.

bom, a parte realmente complicada de morar sozinho é que não há economia de escala, tudo é divido por um. eu me pego muitas vezes me convencendo de que não vale a pena sujar panela pra tão poucas pessoas se alimentarem. ;P

eu abomino "acústicos", mas a belíssima canção "tarde vazia", da incursão do ira! (aliás, eu abomino aquele ex-guitarrista do charlie brown) no gênero, certamente traz um pouco de dignidade ao formato. o arranjo foi na mosca, as harmonias vocais, o piano, tudo de muito bom gosto. eu abomino samuel rosa (e todo o resto do skank, e o clube da esquina, e etc.), mas seu vocal contribuiu bastante; especialmente na segunda parte da música, que a eleva esteticamente milhas acima do que se faz hoje em dia no pop.

falando em acústico, eu nunca vou entender (não encaixa no meu crânio...) como é possível gostar de engenheiros do hawaii. abomino.

a mim parece natural que pessoas que usam drogas tendo a mera auto-satisfação como finalidade (e se usa nicotina, por exemplo, por outro motivo?) não se preocupem muito com o risco de dependência ou possíveis danos à saúde. também me parece claro que a busca da auto-satisfação, não só no uso de drogas mas em praticamente todas as relações, incluindo as sociais (por que se "fica", por exemplo?), é uma forte tendência dentro do modo de produção capitalista.

eu tive uma grande revelação sobre cinema, crítica e arte ao ler o artigo introducing sociology, uma análise de de olhos bem fechados, do kubrick. nele, o autor tim kreider defende, muito convincentemente, que o filme, apesar de em aparência discutir a obsessão sexual, trata no fundo, através das imagens (e eis a chave do que é ou não cinema, na minha opinião), essencialmente disso: a forma das relações sociais no capitalismo.

paulo francis dizia que a função da universidade é criar elites, mas mesmo nas universidades dignas deste nome a mediocridade é cancerosamente difundida. cito como exemplo a adoção pelos centros acadêmicos de sistema eleitoral similar ao estatal. é de se imaginar que pelo menos os estudantes de ciências sociais, notoriamente engajados, perceberiam como esse modelo não é democrático! e no entanto, o que se vê são as chapas e o mandato e a representação política... na prática, e por incrível que pareça, até chapa única é mais democrático e participativo.

isso sem falar nas festas, camisetas, faixas, adesivos; em outras palavras, o capital! nesse sentido, há um livro (a conhecer) de maurício dias chamado "a mentira das urnas", onde se demonstra, segundo ele, que nas eleições nacionais vale a regra: quem investe mais dinheiro vence. querem os estudantes que isso valha também para eles?

o que é pirataria senão uma forma mais viável de acesso à informação? talvez uma forma, como querem os capitalistas, injusta — mas só porque os priva de seus lucros! não é mais injusto impedir comercialmente gente de assistir filmes, ouvir música, utilizar ferramentas, enfim, participar de sua própria cultura? "A desvalorização do mundo humano cresce na razão direta da valorização do mundo das coisas." - Marx

"i got what i wanted and it sucks"