Tantas noites procurei, até embaixo de suas zarabatanas, só encontrei estrelas. Seu sôfrego olhar percorrido pela navalha, tal qual nuvem e lua. Mas nunca deixei de notar, por baixo de suas sete saias, os sonhos de menina que ecoavam como latidos num beco escuro, e como faziam soar meu trombone. Mas agora minha mala está pronta e você nem sabe para onde vou, não interessa a você e é natural que seja assim. No caminho pedregoso vou gastar a minha sola, meu cavalo foi comprar um cigarro e nunca mais voltou. Minhas mãos cansadas de tanto carregá-la, hoje ocupam-se de percorrer meus fios sebosos, e ajeitam-me a aba como num filme noir. Mas não deixe meu destino ocupar seus pensamentos, nem a embriaguez de outrora serviu para alegrar-me. Estarei longe o suficiente para que o mais alto de seus gritos eu não possa escutar, por tempo suficiente para que o último dos seus neurônios não possa lembrar. Cada dia que acordo embrulhado em plástico-bolha é um passo em direção à minha emancipação carnal.