Abel Ferrara - (risos) Essa é boa, "baby", essa é realmente boa. Eu não fiz... Eu gostaria muito de ver Madonna com Brigitte Bardot... Sabe o que eu quero dizer, ver as duas fazendo amor é isso o que eu queria. Seria lindo. Você viu meu filme?

Folha - Parece um filme muito influenciado por Godard.

Ferrara – Realmente tem muito de Godard naquilo tudo. Eu não quero explicar muito isso e... Você gosta de Godard? Você gosta? Qual é o seu filme preferido? Eu quero saber o seu filme e diálogos preferidos. Eu gosto muito da nouvelle vague.

Folha - E a respeito de "Olhos de Serpente"?

Ferrara - Não, é você que tem que falar a respeito. Quero saber o que você achou. Quero saber o que você achou de Madonna! Ela é realmente fabulosa, "baby". Você precisa conhecê-la como eu a conheço. Harvey Keitel também é fabuloso. Você viu "Vício Frenético"? Keitel é grande. Meu filme vai entrar em bons cinemas aí no Brasil?

Folha - O que você pode dizer sobre a história do filme: um cineasta que filma o fim da relação de um casal?

Ferrara - Eles vão passar "Vício Frenético" e "Olhos de Serpente" ao mesmo tempo? O que dizer a respeito de "Olhos de Serpente"? Você sabe, é um filme a respeito de corações partidos. Um homem que tem o coração partido por uma mulher e conhece o inferno. Eu falo de corações partidos. Essa é a única coisa que todo mundo realmente entende. Pessoas apaixonadas me fascinam. O que você acha disso?

Folha - Por que agora, depois de dois filmes que tratavam de um universo violento e marginal, essa urgência em realizar uma história de amor?

Ferrara - O cinema é a respeito de pessoas magoadas por amor. Todo o cinema é a respeito disso. O cinema fala sobre decepção.

Folha - Você acha que está sozinho nesses temas? Alguns críticos comparam seu trabalho ao de Quentin Tarantino (diretor de "Cães de Aluguel").

Ferrara - Mas ele só fez um filme. Eu tento fazer parte de um grupo. Eu conto com isso e... Eu gosto do filme dele.

Folha - Seus filmes carregam também uma forte dose de religiosidade...

Ferrara - É uma coisa diferente. Em São Paulo, as pessoas são de que religião? Você é católico? Eu sou um cara católico. Eu acredito. Eu só realizo filmes sobre coisas que eu acredito.

Folha - Agora você trabalha em um novo projeto?